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28 janeiro 2010

Shodo


HISTÓRIA DO SHODO

Os caracteres que constituem a escrita começaram a aparecer na China a partir de 1.300 a.C., durante a dinastia Yin. Esses eram gravados principalmente em ossos de animais e carcaças de tartaruga, com fins primordialmente oraculares. Apesar de ser uma escrita primitiva, já possuia um número elevado de caracteres.

Com o desenvolvimento cultural do país, o imperador Shih Huang Ti, da dinastia Shang (221 a.C.) reformulou a escrita em escala nacional e a batizou de Sho-ten. Na dinastia seguinte,Han, foi criada a escrita Rei-sho que era mais simplificada para seu uso prático. É nesse período que começa a surgir o Shodo como arte. Surgem grandes mestres da caligrafia nessa época e no período posterior.

Evidentemente, a escrita era privilégio de poucos, e tendo a letra como o único tema de sua existência, o shodo prosperou exclusivamente dentro da classe culta das sociedades.


Ideograma - "Musashi"

No Japão

Os caracteres chineses foram introduzidos da China para o Japão no fim da dinastia Han (202 a.C a 220 d.C), mas poucos sabiam escrever, e só foi mais difundido no governo de Shotoku Taishi, filho da Imperatriz Suiko do Japão) no século VI.

Os caracteres chineses, conhecidos como Kanji, eram então utilizados no Japão, com os mesmos significados do original. Somente durante o período Heian (794 a 1192 d.C.), é que surge a grande novidade no Japão: a criação do Hiragana, para ser utilizado junto com o Kanji.

Diferente do Kanji, onde cada letra é um ideograma, ou seja, tem um significado por si, o Hiragana tem apenas função fonética, servindo para complementar os Kanjis, facilitando a leitura.

Pode-se passar muito mais informações utilizando-se o Kanji. Por exemplo, a escrita chinesa usa somente três caracteres para a frase “Gyokan-zan”, que significa “elevando-se os olhos vislumbra-se a montanha”. Já no japonês, teremos “Ao i de yama wo miru”, com três Kanjis e quatro Hiraganas. Por este motivo, ainda hoje, os chineses não utilizam o Hiragana

O Hiragana foi criado a partir da escrita de Shodo. Os Kanjis deformados pelo artista do pincel deram origem a formas mais arredondadas e mais simples, que inspiraram os criadores do Hiragana. Sendo fonético, o Hiragana tem quantidade bem menor, assim como acontece com o nosso abecedário, enquanto que o Kanji, por possuir significados próprios, tem uma quantidade muito maior. Um dicionário popular de japonês registra mais de 10 mil Kanjis em uso no país, apesar de que a metade nem seja usado, sobrevivendo-se apenas em alguns documentos antigos.

É interessante salientar que as associações de artistas de Shodo do Japão e da China se comunicam freqüentemente, pois apesar do Japão utilizar o Hiragana no dia a dia, e parte dos Kanjis terem sido simplificados no país, a arte do Shodo permanece essencialmente a mesma.

Os materiais utilizados para a arte do Shodo são os mesmos nos dois países. O pincel, feito de pelo, é um instrumento sensível, que junto com a tinta, geralmente preta, que produz uma variedade de subtons de cinza e de espaços “falhos” sobre o papel, traduz a arte da caligrafia. É na levesa, na velocidade em alguns trechos e na parada em alguns pontos com o pincel, é que se desenha a arte do Shodo. Juntando-se os significados que o próprio ideograma desenhado representa, com a sua beleza estética, temos uma arte bastante completa.

 

O SHODO NO BRASIL

Os primeiros imigrantes japoneses que vieram ao Brasil em 1908, já trouxeram a arte do Shodo, em muitos casos, aprendida na escola. Além disso, era comum trazerem na sua bagagem, exemplares da arte caligráfica desenhados por artistas e personalidades de destaque na região onde moravam, para adornarem as paredes da nova casa.

Mas foi a partir de 1975 que o Shodo ganhou um grande impulso. Naquele ano, foi realizada uma inédita Exposição da Arte Caligráfica Moderna do Japão, no Brasil, sob o patrocínio da Fundação Japão, do Mainichi Shimbun e da Federação da Caligrafia Japonesa. Essa exposição pôde ser vista no Museu de Arte São Paulo, na Fundação Cultural do Distrito Federal, no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos de Belo Horizonte, e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Sob o impacto daquele evento, um professor de japonês chamado Kato, que lecionava na Aliança Cultural Brasil Japão, sabendo da existência de muitos apreciadores da arte do Shodo no Brasil, convocou todas as pessoas que praticavam aquela arte no país. Reuniram-se então 70 artistas desconhecidos.

Aquela reunião deu origem à associação que recebeu o nome de Shodo Aikokai do Brasil, e que teve como o primeiro presidente, o sr. Takashi Kawamoto, um artista residente no Brasil, que havia recebido o título de mestre do Shodo enquanto morava no Japão.

Os participantes definiram as diretrizes para difundir o Shodo no Brasil, e sob a orientação de Kawamoto, passaram a se reunir duas vezes por semana, para estudar e praticar a arte.

Depois, com a evolução prática de vários elementos, sentiram-se motivados a participar do exame realizado no Japão, passando a figurar lado a lado com os artistas do Japão.

Um dos fundadores da Shodo Aikokai do Brasil, Nampo Kurachi rapidamente se destacou como um reconhecido calígrafo. Na primeira participação do grupo brasileiro no concurso da associação japonesa Hokushin, em 1981, Kurachi surpreendemente viu seu trabalho ser publicado com destaque, obtendo assim o nível 10, que é o primeiro degrau por onde passam todos os artistas da caligrafia japonesa. Depois, galgando um a um todos os níveis, chegou ao nível 1, para finalmente, obter o 1º grau. Os graus são méritos concedidos apenas a aqueles que passaram por todos os níveis inferiores, e são em ordem crescente.

Nampo Kurachi chegou ao 5º grau nessa escala hierárquica, quando prestou exame e foi aprovado como professor (kyoushi), um dos poucos no Brasil.

O mestre Kurachi nasceu em 1921, e chegou ao Brasil em 1934, trabalhando primeiro no campo, e depois na tinturaria. Grande apreciador da música, dirigiu a Aozora, uma banda que animava bailes e festas nos anos 60 e 70. Foi também jurado de muitos concursos de música japonesa.

Com sua calma oriental e budista (todos os anos, há décadas, ele reserva a manhã do primeiro dia do ano para ir ao seu templo e rezar pela paz no mundo), e sua grande vontade de cultivar a arte, Nampo Kurachi não aparenta a idade que tem. E há muito mantém seu rítmo intenso de trabalho. Atualmente leciona na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, na Associação da Província de Aichi, e na Escola Oshiman, todas em São Paulo.

Bastante reconhecido no meio artístico, Nampo Kurachi aparece com freqüência dando entrevistas para revistas e jornais, como a Made in Japan, e também para programas de TV, como o Fantástico, da Globo.

FONTE www.culturajaponesa.com.br

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